Foto: Reprodução/ Metropole

Por: Luísa Ximendes 

 Em entrevista, Elaine Hazin fala sobre o caso de racismo de funcionários da Gol contra a Samantha Vitena

A jornalista Elaine Hazin, que denunciou o caso de racismo contra a professora Samantha Vitena, contou à Rádio Metropole nesta terça-feira (02) detalhes sobre o que aconteceu no voo da Gol do qual a passageira foi expulsa. Ela destaca o descaso seguido de agressividade contra Samantha por parte da tripulação.

Elaine contou que o voo que partiu de Salvador com destino à São Paulo na madrugada de sábado (29) já estava atrasado havia mais de uma hora quando os passageiros entraram no avião, e que Samantha foi ignorada pela tripulação enquanto enfrentava dificuldade para guardar a bagagem. Com a ajuda de outros passageiros, Vitena encontrou lugar para acomodar a mala e sentou em sua poltrona.

“Ameaça ao voo”

Após mais uma hora dentro do avião sem decolar, a tripulação ainda não havia dado explicações sobre o motivo do atraso. Foi quando a informação de que havia uma bomba no veículo começou a correr, gerando apreensão entre os passageiros.

“Depois chegaram esses três policiais da polícia federal, do esquadrão antibomba, que entraram no avião e pediram que a Samantha se retirasse do voo. Um deles ameaçou levar ela se ela não fosse”, contou Hazin.

“A única coisa que ela fez foi abrir a porta dos compartimentos de uma maneira mais forte, e isso foi visto pelo comandante como uma ameaça ao voo”, contou Elaine quando questionada sobre possíveis motivos para a abordagem. “Se isso não foi um caso de racismo, eu não consigo entender outra razão. Porque não se pode tratar ninguém dessa forma”.

Medo e apreensão

Samantha teria apenas questionado sobre a razão de estar sendo levada, apreensiva sobre o que estava acontecendo, segundo a entrevistada. “Todo mundo estava sem entender o que estava acontecendo. Eu e outros passageiros orientamos que ela não fosse [com os policiais]. Não queríamos que ela ficasse sozinha”.

A jornalista ainda acompanhou Vitena ao ser retirada pelos policiais. Mas contou que um deles, que desde o início da abordagem foi agressivo, a pegou pelo braço e disse que acabaria indo junto à delegacia, o que a fez voltar para o avião. “Tinha um lado meu que se arrependia, dizia ‘meu Deus, eu devia ter ido junto’. Mas fiquei com medo do que poderia acontecer comigo também”, relembrou.

A denúncia

Elaine entrou em contato com o jornalista Manoel Soares ao retornar ao avião. Ele pediu os vídeos e ajudou a denunciar o caso, além de contatar dois advogados para acompanharem a vítima. Outros passageiros entraram em contato com a mãe de Samantha, que se desesperou ao saber do ocorrido.

As testemunhas organizaram um grupo de WhatsApp para garantir que a justiça seja feita para Samantha. “Eu acho que é o mínimo que a gente tem que fazer. Pra mim foi um aprendizado para ficar atenta e registrar tudo para que esses casos possam ser vistos”.

Ela contou que “mexer no bolso” da Gol seria a única maneira de chamar a atenção para o atendimento da empresa. Mas lamentou: “Essas marcas do que ela viveu, mesmo que tenha um processo, não sei como se apagam”.

A Polícia Federal instaurou, no último domingo (30), um inquérito para apurar a existência de crime de preconceito durante a abordagem no voo da Gol 1575. A investigação permanecerá em sigilo até a completa elucidação dos fatos.